domingo, 31 de janeiro de 2021

Taekwondo(Argentina, 2016)


Quando os créditos de Taekwondo aparecem no início do filme só vemos nomes masculinos. E o filme do argentino Marco Berger, em parceria com Martin Farina, mais uma vez carrega sua marca registrada, o do homoerotismo e de ângulos, enquadramentos e planos que são pura testosterona.

Logo no início um close num pênis mostra o que está por vir. A história é ambientada em uma casa divida por vários amigos homens, Leo, Lucho, Maxi, Fede, Tomás e Diego, interpretado por Gastón Ré, que trabalhou com Berger em Un Rubio. Além de Germán(Gabriel Epstein), o homossexual da casa, que ficará mexido com a chegada de Fernando(Lucas Papa).

Enquanto exibem os corpos musculosos e suados pela residência sem camisa e com bermudas justas, os moradores fumam maconha, tomam banho de piscina, fazem sauna, bebem, jogam tênis e batem papo, geralmente sobre mulheres e sexo, naquele refúgio dos Brothers, um ambiente majoritariamente heterossexual.

Fazendo um cinema de textura masculina, Berger, assim como em sua obra Havaí, mantém o clima de expectativa e torcida pelos protagonistas Germán e Fernando, que ficam sempre naquele quase. Uma tensão sexual que explode em olhares, gestos e frases.

Por mais que em algum momento Taekwondo, pareça lento ou repetitivo, diante de outras obras de Berger, o filme é fruto de um microuniverso criado pelo cineasta permeado de desejo, tensão sexual, beleza e masculinidade.


sábado, 30 de janeiro de 2021

A Região Selvagem(La Región Salvaje, México, 2016)


Sensação no Festival de Veneza em 2016, com o realizador Amat Escalante ganhando o Leão de Prata de Melhor Diretor, o longa A Região Selvagem esbanja criatividade, estranheza e toques de erotismo, para contar uma história no mínimo inusitada. 

Logo na primeira cena, nos deparamos com um meteoro caindo em uma região remota no México. Nesse vilarejo somos apresentados aos personagens principais Alejandra(Ruth Ramos), seu marido Angel(Jesus Meza) e o irmão, com quem o esposo está tendo um caso, Fabian(Eden Villavivencio)


A queda do meteoro, o clima de mistério que rodeia os personagens e o vilarejo são metáforas para como lidamos com o prazer e a sexualidade, e uma eterna insatisfação, embora o filme esteja repleto de analogias, abertas à interpretação.

Quando Veronica(Simone Buci) apresenta a Fabian uma criatura vinda do espaço, guardada por dois idosos, a história toma rumos completamente inesperados. O design do Alien é instigante e mostra certa influência do clássico de Ridley Scott. A estética do filme, rendeu o Ariel, Oscar mexicano, de efeitos visuais, que também premiou Escalante, como Melhor Diretor.

Fabian aparece quase morto num lago, e sua relação abusiva com Ángel vem à tona, esse acaba se tornando um dos principais suspeitos. Enquanto isso, a solitária e traída Alejandra irá explorar a criatura, mais uma vez apresentada por Veronica.


O surrealismo, a fantasia, a câmera com planos longos e a trilha de tensão nos oferecem uma mistura de David Cronenberg e Buñuel, ao mesmo tempo que lembra obras recentes como A Bruxa e Melancolia, e fazem com que A Região Selvagem seja algo totalmente diferente do que já vi no cinema mexicano. É criativo, ousado, poético e por fim, arrebatador!


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

MELHORES FILMES TRANS - PARTE 2



Hoje é 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans, data que foi instituída em 2004, e desde então celebra a evolução e as conquistas da comunidade transgênero em nossa sociedade. Nesse dia, mais que especial, separamos dez longas que cultuam a cultura trans em suas mais variadas formas, camadas, cores, ângulos e nuances.

10 - Minha Vida em Cor de Rosa(Ma vie en Rose, Béligica, 1997)

Uma das primeiras produções a tratar da transexualidade na infância,o filme de Alain Berliner, conta a história de Ludovic, uma criança que é vista pela família e comunidade como um menino, mas de forma consistente comunica ser uma menina. O filme retrata a família de Ludovic lutando para aceitar essa expressão de gênero transgressiva. Uma bela obra lúdica ao retratar o mundo visto pelos olhos de uma criança transgênero.


9 - Meu Amigo Cláudia(Brasil, 2009)

O filme, de Dácio Pinhero, é uma colagem de depoimentos da própria Claudia em diversas fases, filmes antigos, shows em programas de tv, depoimentos de contemporâneos e recortes de jornal. através da trajetória dela, assistimos à cidade perseguir gays e travestis, ao surgimento da AIDS, o fervilhante underground paulistano, as mudanças políticas por quais o país passou, enfim, como diz o Zé Celso em dado momento do filme: "Claudia Wonder foi, não, Claudia Wonder é a história dessa cidade…" e é mesmo. Em tempos de perseguições à mini-saias e afins, conhecer a Claudia se torna mais do que necessário!

8 - A Garota Dinamarques(The Danish Girl, Reino Unido/Irlanda, 2015)

O filme de Tom Hopper, é a cinebiografia de Lili Elbe, Eddie Redmayne, tão entregue ao personagem quanto em A Teoria de Tudo, que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero, na Copenhague dos anos 1920. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda, Alicia Vikander, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante, e sua descoberta como mulher. Filme delicado e belíssimo.

7 - Paris is Burning(EUA, 1990)

Premiado e antológico, o documentário, de Jennie Livingston, explora a cena dos Ballrooms de Nova York, na segunda metade dos anos 1980. Criada pela população LGBTQIA+ de origem afro-latina, essa subcultura é explorada em todos os seus aspectos e reflexões, tendo como foco alguns personagens marcantes de uma cena que ainda vive. O filme apresenta o conceito de famílias, casas de acolhimento, geralmente comandada por uma mãe trans. Esse longa é um ícone entre a comunidade queer, tendo inspirado a ótima série Pose.

6 - Hedwig: Rock, Amor e Traição(Hedwig and the angry inch, EUA, 2001)

Com canções emblemáticas o filme é uma icônica adaptação do musical Off Broadway, por John Cameron Mitchel, que dirige e estrela a película Hedwig é uma cantora de rock que nasceu homem, na Alemanha Oriental, e se chamava Hansel. Criado ouvindo uma rádio norte-americana, Hansel só tinha duas certezas na vida: de que seria uma estrela de rock e que um dia encontraria sua alma gêmea. Quando conhece Luther, recruta americano que promete casar-se e levá-lo para os Estados Unidos, Hansel pensa que chegou sua vez de ser feliz. Contudo, para que seu sonho se realize, é obrigado a submeter-se a uma cirurgia de troca de sexo. Hansel torna-se Hedwig, muda-se para a América e forma uma banda de rock. Mas este é apenas o primeiro capítulo de uma história ao mesmo tempo dramática e engraçada, permeada por amores arrebatadores, amargas desilusões e rock do bom.


5 - A Má Educação(La Mala Educacion, Espanha, 2004)

Em Má Educação, Pedro Almodóvar retoma uma história que começou a contar nos anos 1980, em A Lei do Desejo, da criança abusada pelo padre, que na vida adulta se assume trans. Quando um velho amigo entrega ao cineasta Enrique Godet (Fele Martínez) um roteiro baseado na adolescência dos dois, Enrique é obrigado a reviver sua juventude em um internato católico. Alternando passado e presente, o roteiro acompanha uma transexual (Gael García Bernal) que se reconecta com o passado. O encontro faz a personagem refletir sobre a vitimização sexual e o trauma de esconder sua preferência sexual. Almodóvar apresenta um metacinema impressionante e um desfecho apoteótico para a trans, Zahara.

4 - Traídos pelo Desejo(The Crying Game, Reino Unido/Irlanda, 1992)

IRA seqüestra um soldado inglês (Forest Whitaker), que desenvolve uma certa amizade pelo guerrilheiro (Stephen Rea) encarregado de vigiá-lo. Mas o soldado morre e o guerrilheiro vai comunicar sua morte à namorada do soldado, por quem acaba se apaixonando. Mas esta paixão lhe provocará um choque inesquecível, enquanto companheiros do IRA querem que ele participe de uma perigosa missão. O filme de Neil Jordan, de Entrevista com o Vampiro, foi pioneiro em trazer protagonismo trans. O ator Jaye Davidson, foi indicado ao Oscar por interpretar a transgênero, Dil.


3 - Meninos não choram(Boys don’t Cry, EUA, 1999)

História de um garoto transexual, Brandon Teena, morador de uma pequena cidade americana. Baseado em fatos reais, o roteiro mostra os violentos preconceitos que sofre quando sua transexualidade é revelada. Um brutal e cruel retrato de transfobia, que rendeu à Hillary Swank, o Oscar de Melhor Atriz. Com Cloé Sevigny e Peter Sarsgaard, no elenco, o filme é um grito de socorro da comunidade LGBTQIA+, que ainda hoje segue passando tipos de situação assim

2 - Uma mulher fantástica(Uma mujer fantástica, Chile, 2017)

Vencedor do Oscar de Filme estrangeiro, o filme conta a história de Marina, a ótima Daniela Vega, uma mulher trans. Quando seu parceiro, um homem de meia idade, morre, ela se vê diante da raiva e do preconceito da família dele. Ela luta por seu direito de sofrer - com a mesma energia ininterrupta que ela exibiu quando lutou para viver como uma mulher. O filme, abriu o caminho para que diversas produções LGBTQIA+ chilenas ganhassem luz.

1 - Tudo sobre minha mãe(Todo sobre mi madre, Espanha, 1999)

No filme que deu o Oscar à Pedro Almodóvar, Esteban é um jovem de 17 anos que está escrevendo uma história. No dia do seu aniversário, a mãe ia lhe contar tudo sobre seu pai, desconhecido para o menino. Mas um acidente impede que isso aconteça, e a mãe de Esteban decide partir atrás do pai de seu filho. Brilhantemente interpretada por Cecilia Roth, Manuela, encontra em Barcelona a trans Agrado, fundamental para a narrativa e protagonista de um icônico monólogo. Por lá Manuela cruza seu caminho com a atriz Huma Rojo(Marisa Paredes) e Rosa(Penélope Cruz), até finalmente encontrar Lola, o pai de Esteban. Obra Prima!

Fonte de Parte das Sinopses: Filmow.com

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

MELHORES FILMES TRANS - PARTE 1



Amanhã, 29 de janeiro, é o Dia da Visibilidade Trans, nossa ideia era fazer um TOP 10 para publicar na data e assim celebrar toda a diversidade, tonalidades, abordagens, e a ótica de obras que tratam de personagens transgêneros. Pois bem, foi impossível escolher apenas dez títulos e tivemos que dividir essa lista em duas partes. Segue a primeira:

20 - Laurence Anyways(Canadá, 2012)


O promissor diretor canadense Xavier Dolan, discute orientação sexual e identidade de gênero, nesse que é um dos primeiros filmes de sua carreira. A história conta a vida de Laurence, uma mulher transexual que em seu aniversário de 30 anos revela à sua namorada, Fred, seu desejo de fazer a transição. Mesmo abalada com a revelação, ela resolve permanecer ao lado da pessoa que ama, tendo que lidar com preconceitos de familiares, amigos e colegas de trabalho. Contra tudo, elas tentarão provar que o amor pode superar todas as situações

19 - Transamerica(EUA, 2005)


Bree Osbourne (Felicity Huffman) é uma orgulhosa transexual de Los Angeles, que economiza o quanto pode para fazer a última operação. Um dia ela recebe um telefonema de Toby (Kevin Zegers), um jovem preso em Nova York que está à procura do pai. Bree se dá conta de que ele deve ter sido fruto de um relacionamento seu, quando ainda era homem. Ela, então, vai até Nova York e o tira da prisão. Toby, a princípio, imagina que ela seja uma missionária cristã tentando convertê-lo. Bree não desfaz o mal-entendido, mas o convence a acompanhá-la de volta para Los Angeles. Apesar da escolha de uma atriz cis para interpretar a protagonista, este filme trouxe bastante visibilidade para a comunidade trans.

18 - Cambio de Sexo(Espanha, 1977)

O diretor espanhol Vicente Aranda, chamou a jovem Victoria Abril, que mais tarde se tornaria conhecida pelos filmes do Almodóvar, para viver a transexual José Maria/Maria José. Mostrando toda a jornada de transição, com a participação da trans Bibi Andersen, o filme escandaloso para a época chega a mostrar inclusive como era feito o processo de transição de gênero. Uma obra espanhola, pré-Almodóvar, pioneira, necessária e que merece ser reconhecida.

17 - Albert Nobbs(Reino Unido, 2011)

Baseado na obra de George Moore, "Albert Nobbs" conta a história de uma mulher inglesa, , que se disfarça de homem para poder sobreviver na sociedade machista da Irlanda, do século XIX. Delicado e ao mesmo tempo brutal, o filme de Rodrigo Garcia, conta com a interpretação sublime de Gleen Close, para discutir um tema que durante muitas décadas foi considerado tabu.

16 - Tangerina(Tangerine, EUA, 2015)

Los Angeles. Véspera de Natal. Sinn Dee sai da cadeia após 28 dias e encontra no sua melhor amiga, Alexandra. As duas travestis são interpretadas respectivamente pelas atrizes trans Kiki Kitana Rodriguez e Mya Taylor. O filme de Sean Baker, mesmo diretor de Projeto Flórida, tem todos os aspectos de um indie movie, ainda mais porque foi filmado num um celular. E é nessa Los Angeles, independente, underground e sem glamour que os personagens passeiam e vivem seus conflitos.


15 - Tomboy(França, 2012)

No filme de Céline Sciamma, Laure (Zoé Héran) é uma garota de 10 anos, que vive com os pais e a irmã caçula, Jeanne (Malonn Lévana). A família se mudou há pouco tempo e, com isso, não conhece os vizinhos. Um dia Laure resolve ir na rua e conhece Lisa (Jeanne Disson), que a confunde com um menino. Laure, que usa cabelo curto e gosta de vestir roupas masculinas, aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa, porém verdadeira, identidade de gênero

14 - Num ano de 13 Luas(Alemanha, 1978)


Em 1978, o gênio do cinema alemão Rainer Fassbinder já estava muito a frente de seu tempo e tratava com naturalidade temas como redesignação de sexo e transexualidade. Num Ano de 13 luas, filme intimista que realizou após a morte de um namorado, é um triste retrato de uma transgênero que sofre com sua condição e vive uma jornada existencial de desprezo e humilhações. Como toda a obra do diretor, o filme é impregnado de analogias e crítica social.


13 - Valentina(Brasil, 2020)


No premiado longa de Cássio Pereira dos Santos, Valentina (Thiessa Woinbackk), uma menina trans de 17 anos de idade, muda-se para uma pequena cidade mineira com sua mãe, Márcia (Guta Stresser). Com receio de ser intimidada na nova escola, a garota busca mais privacidade e tenta se matricular com seu novo nome. No entanto, a menina e a mãe começam a enfrentar dilemas quando a escola pública local começa a exigir, de forma injusta, a assinatura do pai ausente para realizar a matrícula.

12 - Café da manhã em Plutão(Irlanda/Reino Unido, 2005)

No longa de Neil Jordan, Patrick 'Kitten' Braden (Cillian Murphy) é transexual numa pequena cidade da Irlanda. Filho de um relacionamento entre uma doméstica e o padre local, depois de abandonado pela mãe Patrick foi criado por Ma Braden (Ruth McCabe), que não suporta seu jeito afeminado. Juntamente com seus amigos Charlie (Ruth Negga), Irwin (Laurence Kinlan) e Laurence (Seamus Reilly), Kitten decide sair de casa e partir em busca de sua mãe verdadeira. A jornada da protagonista é mostrada em meio à fantasia e realidade.

11 - O Funeral das Rosas(Funeral Parade of Roses, Japão, 1969)



A obra prima e imersiva, de Toshio Matsumoto, relata a história de Eddie, uma transexual excepcionalmente bonita e uma das melhores hostess em um dos mais famosos clubes noturnos do Japão. Eddie tem um amor obsessivo pelo proprietário do clube, que já está envolvido com, Leda, uma travesti madura e ciumenta. Eddie tem flashbacks confusos de sua infância: do seu pai sempre ausente e lembranças nebulosas e estranhas de sua mãe. Ela tem uma fotografia escondida em seu apartamento - mas o rosto na foto de seu pai foi queimado por sua mãe há alguns anos. À medida que o filme avança, começa-se a entender melhor a mente de Eddie e a juntar os pedaços da verdade terrível sobre o seu passado violento.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A Glória e a Graça(Brasil, 2017)

Eu poderia começar esse texto questionando o fato de Carolina Ferraz, uma mulher cis, interpretar a trans do título. Mas penso, estaria sendo preconceituoso, afinal atores e atrizes representam personagens. E Ferraz, apesar de não ser o ideal para a representetividade LGBTQIA+, convence e defende com muita garra sua Glória.


A premissa do filme de Flavio Ramos Tembellini ,até lembra recentes melodramas da TV. Após descobrir que está com um aneurisma, Graça, a ótima Sandra Corveloni, procura o irmão Luiz Carlos, com quem não fala há 15 anos. Ele porém agora se tornou Gloria, uma bela e bem sucedida transexual, dona de um restaurante em Santa Teresa.

O roteiro assinado por Lusa Silvestre, de Estômago, e Mikael de Albuquerque, aborda questões familiares de aceitação e resiliência. Os filhos de Graça, Papola e Moreno, acabam se tornando o elo entre as duas irmãs, o que acaba colocando diante de Glória a possibilidade, nunca pensada, de ser mãe.

“Eu sou mulher, mulher, pra Caralho” esbraveja a personagem de Carolina Ferraz, após ter uma epifania. A principal questão de A Gloria e a Graça, é a de uma transexual adotar duas crianças e retomar os seus laços familiares, mesmo após uma morte.

O momento de reconciliação das duas personagens principais é um trajeto comovente, com lembranças, mágoas do passado e segredos vindo à tona. Tudo isso com diálogos bem construídos no embate entre as duas irmãs.

A Glória e a Graça é um filme que traz representatividade, na abordagem, sim! No elenco a personagem Fedra, é interpretada pela atriz trans Carol Marra e o orgulho que Gloria tem de bater no peito e dizer que é travesti é comovente. Certamente há algumas falhas no roteiro e na direção, mesmo assim, não ofuscam a bela história que o filme tem para contar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Café da Manhã em Plutão(Breakfast on Pluto, Irlanda/Reino Unido, 2005)



O diretor irlandês Neil Jordan, sempre se deu bem ao abordar o universo homossexual, como em Entrevista com o Vampiro e Traídos pelo Desejo, cujo Jaye Davidson, foi indicado ao Oscar por interpretar uma mulher trans.

Em Café da Manhã em Plutão, o cineasta relembra seu passado, voltando para a Irlanda dos anos 1970. Baseado no livro homônimo, de Patrick McCabe, o filme também se divide em 36 capítulos, tal como a obra literária.

Patrick é abandonado ainda bebê para a adoção. A família ao perceber, que ele está crescendo com trejeitos femininos, o rejeita, deixando assim a mercê de personagens que vão surgindo ao longo de sua jornada. 


Já adolescente, interpretado pelo excelente Cillian Murphy, ele curta a era Glam Rock, se maquiando e vivendo o sonho em se transformar em Kitten, uma mulher. Quando decide procurar pela verdadeira mãe, parte para a Inglaterra, a fim de realizar seus sonhos. 

Usando de uma linguagem lúdica para narrar todo o processo de transição de Patrick em Kitten, o diretor faz um grande trabalho misturando realismo com fantasia, nos contando sobre os amores, ilusões e desencantos, da protagonista.


A fantástica trilha sonora, que reúne bandas e músicos como Bobby Goldsboro, Cole Porter, Harry Nilsson, Dusty Springfield, T-Rex, Kris Kristofferson, Patti Page, Buffalo Springfield e Van Morrison, entre outros, insere ainda mais o espectador no universo de Kitten.

Há muita beleza no filme, nos diálogos, nas imagens, na maneira como a história é contada. Ao traçar sua jornada, Kitten conta com o Padre vivido por Liam Neeson, fundamental para a narrativa da heroína. O elenco traz ainda participações de Stephen Rea, Brendan Gleeson, Ian Hart e o cantor Bryan Ferry, mas é Cillian Murphy que, com certeza, brilha do início ao fim.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Tomboy(França, 2011)



Anos antes de realizar sua obra prima Retrato de uma jovem em chamas, a cineasta francesa Céline Sciamma, dirigiu Tomboy, seu segundo longa, que assim como o vizinho belga Minha Vida em Cor de Rosa, trata da transexualidade infantil, mas nesse caso um trans menino.

Tomboy é uma expressão usada para designar meninas moleques. Laure, numa interpretação brilhante de Zoé Herán, é uma criança de 10 anos, que se veste com roupas masculinas, usa cabelo curto e vive com os pais e a irmã mais nova, Jeanne, que apesar da diferença de idade é a melhor amiga e cúmplice.

O protagonismo do filme é das crianças, por isso os adultos não tem nome, mas a relação dos pais com a aparência masculina de Laurie parece muito tranquila. Quando eles se mudam de bairro, ela se apresenta para o resto das crianças como Michael e passa a viver sua verdadeira identidade de gênero, como um menino.

Michael se relaciona com Lisa, com quem troca alguns beijinhos inocentes, enquanto realiza todas as outras brincadeiras como menino. Numa ótica bem infantil, quando precisa nadar com os amiguinhos ele faz um pênis de massinha de modelar.

Tomboy, não trata o tema com didatismo, e apesar do baixo orçamento tem um visual muito bonito e planos e enquadramentos estratégicos. É um filme muito leve e sutil, quase lúdico, e que coloca em debate o tema de como é se sentir um estranho dentro do próprio corpo, ainda mais para uma criança.


Lindo e comovente, o filme nos deixa uma mensagem de positividade e esperança em relação a aceitação e visibilidade da comunidade trans, que cada vez mais cedo começa a brotar. É preciso mais longas como esse, para se falar mais sobre a transexualidade masculina.