quinta-feira, 6 de março de 2025

La Belle de Gaza (França, 2024)

 

"La Belle de Gaza", dirigido por Yolande Zauberman, encerra sua "Trilogia da Noite", iniciada com "Would You Have Sex with an Arab?" (2011) e "M" (2018). O documentário explora a vida de mulheres trans palestinas que, fugindo de ameaças em Gaza, buscam refúgio em Tel Aviv. Com um olhar poético, Zauberman retrata resistência e identidade, mas nem sempre equilibra sua busca pessoal com a profundidade do tema.

O filme parte de uma lenda: uma jovem trans teria cruzado de Gaza a Tel Aviv por liberdade. Chamada "A Bela de Gaza", ela guia uma jornada noturna por Hatnufa, bairro marginal onde mulheres trans palestinas sobrevivem como trabalhadoras sexuais. Filmado com câmera handheld, o registro em tons escuros reflete a marginalidade dessas vidas em uma sociedade dividida.


Zauberman estrutura a obra em encontros com figuras como Talleen Abu Hanna, Miss Trans Israel 2016, e Israela, uma veterana trans. Os depoimentos revelam rejeição, violência e orgulho, formando o coração do filme. Porém, a busca obsessiva pela "Bela" mítica fragmenta a narrativa, deixando lacunas para quem desconhece o contexto geopolítico.


A fotografia belíssima, com sombras e tons dourados, às vezes suaviza demais a brutalidade enfrentada por essas mulheres – violência, precariedade, clientes perigosos. Isso flerta com o voyeurismo, ainda que sem sensacionalismo. A falta de foco em estruturas políticas, como a ocupação israelense, também limita a análise.


Apesar disso, o filme brilha ao destacar a força de suas protagonistas. Elas riem, dançam e afirmam sua existência, transcendendo adversidades. Momentos como uma mulher na praia ou o diálogo final sugerem esperança e reconciliação, capturando a luz que Zauberman busca nas trevas.


"La Belle de Gaza" é belo e incompleto. Menos impactante que "M", ainda é um testemunho valioso da resiliência humana. Suas imperfeições não apagam a coragem das personagens nem a delicadeza de seus retratos, fazendo-o ressoar como um convite a ouvir vozes silenciadas.


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