"La Belle de Gaza", dirigido por Yolande Zauberman, encerra sua "Trilogia da Noite", iniciada com "Would You Have Sex with an Arab?" (2011) e "M" (2018). O documentário explora a vida de mulheres trans palestinas que, fugindo de ameaças em Gaza, buscam refúgio em Tel Aviv. Com um olhar poético, Zauberman retrata resistência e identidade, mas nem sempre equilibra sua busca pessoal com a profundidade do tema.
O filme parte de uma lenda: uma jovem trans teria cruzado de Gaza a Tel Aviv por liberdade. Chamada "A Bela de Gaza", ela guia uma jornada noturna por Hatnufa, bairro marginal onde mulheres trans palestinas sobrevivem como trabalhadoras sexuais. Filmado com câmera handheld, o registro em tons escuros reflete a marginalidade dessas vidas em uma sociedade dividida.
Zauberman estrutura a obra em encontros com figuras como Talleen Abu Hanna, Miss Trans Israel 2016, e Israela, uma veterana trans. Os depoimentos revelam rejeição, violência e orgulho, formando o coração do filme. Porém, a busca obsessiva pela "Bela" mítica fragmenta a narrativa, deixando lacunas para quem desconhece o contexto geopolítico.
A fotografia belíssima, com sombras e tons dourados, às vezes suaviza demais a brutalidade enfrentada por essas mulheres – violência, precariedade, clientes perigosos. Isso flerta com o voyeurismo, ainda que sem sensacionalismo. A falta de foco em estruturas políticas, como a ocupação israelense, também limita a análise.
Apesar disso, o filme brilha ao destacar a força de suas protagonistas. Elas riem, dançam e afirmam sua existência, transcendendo adversidades. Momentos como uma mulher na praia ou o diálogo final sugerem esperança e reconciliação, capturando a luz que Zauberman busca nas trevas.
"La Belle de Gaza" é belo e incompleto. Menos impactante que "M", ainda é um testemunho valioso da resiliência humana. Suas imperfeições não apagam a coragem das personagens nem a delicadeza de seus retratos, fazendo-o ressoar como um convite a ouvir vozes silenciadas.
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