A narrativa acompanha Joseph (interpretado pelo próprio Stumm), um cineasta gay que enfrenta os desafios de desenvolver seu próximo filme enquanto lida com as demandas da paternidade compartilhada de Pino (Justus Meyer), seu filho pequeno, ao lado de Sonya (Haley Louise Jones), sua melhor amiga. A trama ganha densidade quando Sonya, lutando contra uma depressão severa, é internada, deixando Joseph como principal cuidador do menino. Esse ponto de partida, que poderia facilmente descambar para o melodrama, é tratado por Stumm com uma leveza desconcertante, entremeada por momentos de humor físico e diálogos que transitam entre o trivial e o existencial.
Sad Jokes se estrutura como uma colagem de vinhetas, uma escolha estilística que reflete a fragmentação das vidas de seus personagens. A abertura, com uma sequência de pessoas contando piadas tristes ao som de risadas enlatadas, estabelece o tom agridoce que permeia o filme. Stumm não busca uma linearidade convencional, mas sim capturar a essência de instantes, sejam eles cômicos, como Joseph preso em um acidente com um vendedor automático, ou devastadores, como o monólogo de Sonya sobre uma memória de terapia. Essa abordagem, embora por vezes desorientadora, confere à obra uma qualidade quase musical, que ecoa as influências de cineastas como Éric Rohmer e Woody Allen, referências explícitas no filme.
A direção de Stumm é marcada por uma estética contida e precisa, com enquadramentos estáticos e uma iluminação natural que contrastam com a volatilidade emocional dos personagens. A fotografia de Michael Bennett, colaborador recorrente do diretor, cria visuais que parecem abraçar tanto a calma quanto o caos interno, um paradoxo que reflete a dualidade central da obra: a coexistência de alegria e dor.
No centro do filme, a química entre Stumm e Jones é um dos pilares que sustentam a narrativa. Joseph, com sua mistura de vulnerabilidade e determinação, é um protagonista que não domina as cenas de forma convencional, mas as atravessa com uma suavidade quase magnética. Sonya, por sua vez, traz uma intensidade crua, especialmente nas sequências que revelam os abismos de sua depressão. A relação entre os dois, baseada em amizade e parentalidade não convencional, é retratada com uma naturalidade rara, desafiando modelos tradicionais de família sem jamais soar didática.
O elenco de apoio também merece destaque. Ulrica Flach, em sua estreia no cinema, entrega um momento memorável como Elin, a professora de desenho de Joseph, cujo monólogo inspirado em Joana D’Arc é um dos pontos altos do filme, uma explosão de emoção que contrasta com a contenção geral da obra. Jonas Dassler, como o ex-namorado de Joseph, e Godehard Giese, como um produtor excêntrico, adicionam camadas de humor e tensão, enquanto o jovem Justus Meyer, filho de Stumm na vida real, carrega uma autenticidade desarmante às cenas familiares.
O que eleva o filme acima de suas imperfeições é sua capacidade de encontrar beleza nas fraturas do cotidiano. Stumm explora a ideia de "perseverança", não como um triunfo heroico, mas como um ato quieto de continuar em meio ao caos. Há uma sinceridade palpável em sua abordagem, que rejeita tanto o sentimentalismo fácil quanto a frieza cínica, optando por um equilíbrio delicado.
Sad Jokes é um filme que entende a complexidade do ser humano – o modo como rimos para não chorar, ou choramos enquanto rimos. Fabian Stumm consolida-se como uma voz singular no cinema alemão, alguém capaz de transformar experiências pessoais em uma obra que é ao mesmo tempo íntima e universal.
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