“Endless Summer Syndrome”, de Kaveh Daneshmand, é um thriller psicológico com uma abordagem que desafia convenções, especialmente ao integrar elementos queer em sua trama densa e perturbadora. A narrativa acompanha Delphine (Sophie Colon), uma advogada que vive uma vida idílica ao lado do marido Antoine (Mathéo Capelli) e dos filhos adotivos, Aslan(Gem Deger) e Adia(Frédérika Milan), até que uma denúncia anônima revela um segredo devastador.
Antoine mantém um relacionamento com Aslan, seu filho adotivo. Esse ponto de virada não apenas desmonta a fachada de perfeição familiar, mas também posiciona a representatividade queer como um catalisador narrativo, explorado com audácia e ambiguidade.
A presença queer no filme, materializada na relação entre Antoine e Aslan, pai e filho adotivo, é tratada como um dispositivo que amplifica as tensões éticas e emocionais da história. Daneshmand opta por evitar romantizações ou vilanizações fáceis, apresentando o affair com uma neutralidade desconcertante que força o espectador a confrontar suas próprias percepções sobre moralidade e consentimento. Nesse sentido, a representatividade não busca afirmar identidades ou celebrar a diversidade, mas sim provocar, questionando os limites do aceitável e expondo as fragilidades de uma estrutura familiar que se pretendia intocável.
A escolha de escalar Gem Deger, de Playdurizm(2020), co-roteirista e intérprete de Aslan, reforça a intenção de dar profundidade a essa perspectiva queer, ainda que o próprio Deger e o diretor tenham sugerido em entrevistas que o filme transcende a categorização. Para eles, a história é um drama humano amplo, e o elemento queer serve como um espelho para reflexões mais universais sobre poder e transgressão.
Visualmente, o filme sustenta essa dualidade com uma estética que oscila entre o bucólico e o claustrofóbico, refletindo o contraste entre a superfície harmoniosa e o caos interno da família. A trilha sonora minimalista e as atuações contidas – especialmente de Deger e de Caty Baccega como Delphine – intensificam a sensação de desconforto que permeia a narrativa, enquanto a direção de Daneshmand mantém um ritmo deliberado que dá espaço para o peso das revelações.
“Endless Summer Syndrome” não é um filme queer no sentido tradicional, mas um experimento cinematográfico que utiliza a identidade e a sexualidade como ferramenta de ruptura. Sua força reside na recusa de oferecer respostas ou conforto, deixando o público imerso em um terreno moral ambíguo onde a representatividade queer não é um fim, mas um meio poderoso para explorar as fissuras da condição humana.
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