terça-feira, 4 de março de 2025

Langue étrangère (França/Alemanha/Bélgica, 2024)

"Langue Étrangère", dirigido por Claire Burger, é um coming-of-age que se destaca por sua abordagem sensível e multifacetada, centrando-se na relação entre Fanny (Lilith Grasmug), uma adolescente francesa tímida, e Lena (Josefa Heinsius), uma jovem alemã de espírito rebelde, conectadas por um intercâmbio linguístico. 

O filme usa a barreira da língua como metáfora para explorar as distâncias emocionais e culturais entre as protagonistas, criando uma narrativa que transita entre o intimismo de suas descobertas pessoais e o peso de um contexto social mais amplo. Claire Burger demonstra habilidade ao entrelaçar o despertar amoroso das duas com questões de identidade e pertencimento, situando a trama em um mundo pós-pandêmico que reverberam com as incertezas da juventude atual.


As atuações de Grasmug e Heinsius são o coração pulsante da obra. A química entre elas é palpável, construída em silêncios carregados e gestos sutis que revelam tanto a vulnerabilidade quanto a força de suas personagens. Fanny, insegura e introspectiva, encontra em Lena — confiante e impulsiva — um espelho para suas próprias inquietudes, enquanto Lena vê em Fanny uma chance de confrontar suas fragilidades disfarçadas de ousadia. Essa dinâmica é capturada com maestria pela câmera de Burger.


A direção de Claire Burger brilha ao equilibrar realismo e poesia visual. Cenas como o encontro no hot tub ou os momentos de convivência nas ruas de Leipzig e Estrasburgo são carregadas de uma sensualidade contida, enquanto as manifestações de rua injetam um tom político que expande a categorização do filme. 


A trilha sonora, composta por Rebeka Warrior, com suas batidas techno e ecos góticos, amplifica a energia inquieta das protagonistas, funcionando como um reflexo sonoro de suas emoções em ebulição. É um trabalho que não teme explorar o desejo adolescente como força transformadora, mas também como terreno de conflitos.


No entanto, o filme tropeça em sua ambição narrativa na segunda metade. O que começa como uma história íntima sobre conexão e autodescoberta ganha contornos mais amplos ao introduzir temas como ativismo radical e tensões geracionais, especialmente na relação de Lena com sua mãe, uma ex-ativista. Embora essas camadas enriqueçam o contexto, elas desviam o foco do romance central, diluindo a força emocional que sustentava o enredo inicial.


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