Robert Zemeckis dirige como quem dá uma gargalhada na cara da vaidade. Seus efeitos especiais, revolucionários na época, revelam a grotesca anatomia do desejo de ser perfeito. Cada ruga esticada, cada músculo torcido é uma dança macabra com o próprio ego. “A Morte Lhe Cai Bem” ri da obsessão pela juventude, mas faz isso com o charme de um desfile de mortos-vivos cheios de glitter.
Madeline e Helen são caricaturas divinas da cultura da aparência: uma encarna o narcisismo, a outra o ressentimento com batom vermelho. No meio do caos, Bruce Willis surge como Ernest, o cirurgião plástico que tenta restaurar o que já virou piada. Ele é o homem comum perdido entre duas deusas apodrecidas, o último suspiro de racionalidade em um mundo embalado por spray fixador.
O roteiro de Martin Donovan e David Koepp não tem piedade. A poção de Lisle, vendida como milagre instantâneo, é só mais uma mercadoria envenenada. No fim, as mulheres se tornam zumbis luxuosas, eternamente belas e eternamente quebradas. É uma sátira feroz à indústria que transforma o corpo em produto e o medo da velhice em lucro. Helen, com o buraco literal no peito, é o retrato mais sincero dessa ilusão vendida em frascos dourados.
Trinta anos depois, o filme ecoa em “A Substância”, de Coralie Fargeat. Lá, Demi Moore enfrenta sua própria juventude clonada em uma versão visceral do mesmo pesadelo. Se Zemeckis faz o corpo colapsar com humor, Fargeat o estraçalha com fúria. Um brinca com a carcaça do glamour, o outro arranca o couro da beleza. Ambos apontam para o mesmo abismo: a promessa de perfeição é o horror mais lucrativo da cultura ocidental.
O trio Streep, Hawn e Rossellini brilha como uma constelação de divas decadentes. Streep é puro narcisismo performático, cada movimento uma ópera sobre o medo de desaparecer. Hawn é cômica e trágica, corpo e alma consumidos pela inveja. Rossellini paira como uma entidade que mistura deusa, demônio e dominatrix. E Bruce Willis, deslocado e patético, é o fio humano dessa comédia necropolítica.
A trilha de Alan Silvestri embala tudo com um toque de grandiosidade kitsch, e a direção de arte grita excesso. É o cinema dos anos 90 em sua forma mais deliciosamente artificial: mansões douradas, luz difusa, corpos de cera. “A Morte Lhe Cai Bem” é camp no sentido mais puro, extravagante, autoconsciente e gloriosamente cafona. A imortalidade pode ser um inferno, mas aqui ela vem com salto alto, batom e um Oscar de efeitos visuais.
 
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