“Tiger” é um retrato comovente de existência, silêncio e coragem. Dirigido, roteirizado e editado por Anshul Chauhan, o longa se debruça sobre a vida de Taiga Katagiri (Takashi Kawaguchi), um massagista gay de 35 anos em Tóquio, cuja identidade queer permanece escondida para a família. Quando o pai adoece gravemente, Taiga retorna à cidade natal e enfrenta a ameaça de perder herança caso revele quem realmente é, além da pressão social para renunciar à própria identidade.
Taiga vive em duas frentes: por um lado, lida com o peso da tradição e da família; por outro, busca um sentido de pertencimento real, não fingido. A irmã o pressiona a renunciar à herança para manter o que a família chama de honra e normalidade. Ele ainda confronta com sua trajetória profissional envolvendo trabalhos de massagista e produções adultas, uma exposição social que agrava o temor da rejeição. “Tiger” também examina o desejo de construir laços afetivos que não dependam somente da sexualidade, como o cuidado de uma sobrinha jovem e a amizade com um casal, e mostra a busca de Taiga por uma família de afeto, mesmo que seja via modelos de “amizade”.
A grandeza do filme está na sua honestidade visual e emocional. Takashi Kawaguchi entrega uma atuação silenciosa, intensa, transparente no sofrimento e na esperança. A câmera parece insistir nos detalhes: as veias, as rugas, o suor, a hesitação nos olhares. Já o design sonoro sublinha momentos de silêncio desconfortável, de tensão velada, e o espaço íntimo de Taiga , o salão de massagens, o quarto, os corredores, torna-se palco de seus medos.
“Tiger” também é politicamente incisivo. Ele não apenas mostra os custos legais e materiais de ser queer num contexto conservador, mas evidencia o sistema de expectativas sociais que exige ocultação: herança, reputação, aparências. Quando Taiga considera ou aposta no “casamento por amizade”, ele não apenas busca uma estratégia legal, busca também uma forma de respirar em sociedade que o reconheça sem violência.
O filme, porém, enfrenta desafios narrativos: sua duração (126 minutos) às vezes pesa, ritmos mais lentos em certas sequências escorregam para o contemplativo sem tensão, e algumas transições emocionais, entre desejo, culpa, medo poderiam ser mais afinadas para maior impacto. Ainda assim, essas brechas não apagam a urgência que “Tiger” traz, nem a potência de seus silêncios.
“Tiger” é uma obra que ecoa para quem vivencia o queer invisível, o medo do julgamento, a necessidade de pertencer por inteiro. Anshul Chauhan constrói, com coragem, um filme sobre invisibilidade que pede visibilidade, sobre identidade que não se dobra diante da tradição. É um filme que incomoda, que aponta, que acolhe.
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