“The Crowd", longa de estreia de Sahand Kabiri, emerge como um documento cinematográfico de urgência e resistência, capturando a pulsação de uma juventude iraniana forçada a construir sua liberdade nas margens da sociedade. O filme transcende a simples narrativa de um drama geracional ao se estabelecer como um ato artístico desafiador. Ao focar em um grupo de amigos planejando uma festa de despedida underground para Raman, que está prestes a emigrar, Kabiri não apenas ilustra o êxodo e a esperança de fuga, mas também desenha o mapa afetivo da "família escolhida", cuja existência depende da clandestinidade em Teerã.
A verdadeira força do filme reside na forma como ele entrelaça a celebração e o luto com a resistência social e política. A festa, organizada em uma garagem familiar vazia, torna-se o espaço liminar onde as normas patriarcais são suspensas. É neste refúgio temporário que a vulnerabilidade se manifesta, culminando em uma discussão acalorada sobre a morte de Tondar, um amigo cuja perda não pôde ser lamentada publicamente. O cinema de Kabiri revela que a luta pela festa é, na verdade, a luta pelo direito de expressar o luto e a amizade em um sistema que tenta ditar até mesmo o que pode ser sentido e falado.
É neste contexto de repressão que o filme se consolida como uma crônica da resistência queer iraniana. Embora não seja explicitamente focado em tramas românticas, há um momento suave aqui e outro ali, Jamaat trata o gênero como um princípio de vida: qualquer comportamento ou relação que desafie a estrita heteronormatividade e as leis do Estado. As referências aos diálogos secretos, o medo constante da descoberta e a necessidade de manter as relações ocultas demonstram o alto custo da personalidade.
A estética do filme reforça essa temática de auto-expressão clandestina. Cenas sensíveis, diálogos íntimos e momentos de celebração como a performance de pole dance do protagonista ou a música techno ressoam como manifestações de uma identidade reprimida que se recusa a ser silenciada. Esses elementos, que poderiam ser meramente estilísticos, são na verdade símbolos de combate.
“The Crowd” se posiciona como uma resposta artística fundamental ao conservadorismo iraniano, seguindo uma nova onda de cineastas que arriscam tudo para expor a vida oculta de sua juventude. Financiado de forma independente e filmado em apenas 12 dias, a própria materialização do filme é um desafio direto à censura. 
Kabiri oferece uma visão orgânica e multifacetada da juventude de Teerã, que evita a simplificação, celebrando a solidariedade e a esperança que sustentam a sobrevivência emocional dessa comunidade. Ao dar voz a essa juventude que resiste através da comunidade, do segredo e da arte, Sahand Kabiri transforma a dor da repressão em uma vibrante declaração sobre a tenacidade do espírito humano em sua eterna busca por liberdade.
 
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