“Guardiões da Mansão do Terror” é aquele tipo de animação que ri, grita e exorciza os demônios, literais e metafóricos, de uma geração inteira. Adaptada da graphic novel DeadEndia, de Hamish Steele, a série da Netflix mistura monstros, portais interdimensionais e crises identitárias com uma naturalidade que só quem cresceu entre o Scooby-Doo e o Tumblr conseguiria entender. É um coming of age sobrenatural, colorido e orgulhosamente queer, onde o terror é mais emocional do que espiritual.
No centro da história está Barney Guttman, um adolescente gay e trans que transforma o parque assombrado Phoenix Parks em seu próprio santuário. Fugindo de casa por causa da transfobia da avó (e da omissão dos pais), Barney encontra no terror o espaço da liberdade: onde o mundo real o exclui, o sobrenatural o acolhe. Dublado por Zach Barack, também um homem trans, Barney é a antítese do herói genérico: ele é vulnerável, engraçado, cheio de camadas e, o mais importante, dono da própria narrativa.
Ao seu lado, Norma Khan rouba a cena com sua energia caótica e seu olhar afiado sobre o mundo. Ela é neurodiversa, possivelmente autista ou com ansiedade social, e vive suas jornadas internas com tanta intensidade quanto as externas. Norma representa aquele tipo de personagem que o público nerd sempre quis ver, uma garota inteligente, paquistanesa, que ama cultura pop e demônios travessos. Juntas, ela e Barney formam uma dupla improvável, mas perfeita: dois corações deslocados que encontram pertencimento no meio do caos.
O parque Phoenix é um personagem à parte, um circo de horrores que esconde portais, fantasmas, uma vilã caricata e seguranças mal pagos. Lá, Barney e Norma enfrentam possessões, rituais demoníacos e dilemas existenciais com a ajuda de Pugsley, o cachorro falante mais fofo e perturbado do inferno, e Courtney, uma demônia preguiçosa e irresistivelmente sarcástica. O tom da série passeia entre o riso, o musical e o arrepio, equilibrando sustos leves com momentos de ternura.
Mas o verdadeiro poder da série está na representação inclusiva. Barney é judeu, gordo e trans, um combo raríssimo em produções animadas, e seu interesse amoroso, Logs, é um garoto gay vietnamita. Nada disso é tratado como “tema especial” ou lição de moral; são aspectos naturais de personagens que existem, amam e se assustam como qualquer um. “Dead End: Paranormal Park” prova que diversidade não precisa ser didática para ser poderosa, basta ser honesta e divertida.
“Guardiões da Mansão do Terror" é muito mais do que uma animação sobrenatural: é um abraço colorido em forma de série. Hamish Steele cria um universo onde monstros são menos assustadores que o preconceito, e onde a amizade, o humor e o amor próprio funcionam como verdadeiros feitiços de proteção. É spooky, é gay, é emocionante!
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