Por Bruno Weber
Li Bai, que viveu na China do século VIII, foi um dos maiores poetas da Dinastia Tang, e os temas de sua poesia variavam entre a celebração da vida, o louvor aos tempos de paz e a evocação de imagens fantásticas da natureza. Sal Salandra, por outro lado, é um artista americano, nascido no meio conservador de uma família católica da década de 40, e hoje se dedica a criar imagens feitas com agulha e linha representando cenas homoeróticas bem gráficas e elaboradas, num estilo que ele mesmo chama de "pinturas de tricô". Os trabalhos desses dois artistas, tão distantes e diferentes entre si, serviram de inspiração para o diretor Lucio Castro, um argentino residente dos Estados Unidos, realizar seu mais novo filme. Assim, ele une essas duas temáticas na celebração do sexo entre homens, retratando-o como mais do que uma forma de arte por si só, mas também como um caminho para uma nova realidade.
O filme, que é assumidamente erótico, se divide em quatro capítulos que mostram momentos diferentes da vida do estudante universitário Adnan (Laith Khalifeh), contados de forma não linear. No primeiro capítulo, "Drunken Noodles" - que dá nome ao filme - Adnan vai para Nova York trabalhar numa galeria que está exibindo as obras de Salandra. Ele está ficando de favor no apartamento de um amigo que está fora da cidade enquanto cuida de sua gata. Completamente sozinho e entediado, ele passa o tempo fazendo sexo casual com homens em parques à noite e jantando através de aplicativos de entrega. Por pura chance, ele acaba tendo um desses contatos sexuais com um dos entregadores que lhe entregam comida. O encontro com o entregador Yariel (Joel Isaac), que também se revela poeta, acaba sendo menos casual do que os dois esperavam, quando eles se conectam através das obras de Salandra, culminando numa orgia de motoboys.
No segundo capítulo, "Duas Cadeiras de Jardim", voltamos no tempo e descobrimos como Adnan conseguiu o emprego na galeria, ao conhecer por acaso o próprio Sal Salandra em sua casa no meio da floresta. Aqui, o artista é interpretado pelo ator Ezriel Kornel, apesar do verdadeiro Salandra aparecer algumas vezes durante o filme, tricotando o título de cada capítulo. A atração sexual entre Adnan e Salandra ocorre naturalmente em seu breve encontro, e é interessante notar como Lucio Castro retrata o corpo de um homem idoso como desejável e sexualmente vivo. Não apenas apreciado como fetiche, apesar do capítulo seguinte revelar que Adnan pode ter algumas preferências. O encontro entre os dois termina com Salandra mostrando sua verdadeira conexão com a natureza ao redor de sua casa, o que apenas abre novas possibilidades sexuais para Adnan. A partir desse momento, o filme se aprofunda no realismo fantástico.
O terceiro capítulo, "Notas Para Uma Possível História", mostra Adnan num relacionamento com mais um homem mais velho - apesar da diferença de idade ser menor. Ele viaja com seu namorado Iggie (Matthew Risch) para uma casa nas montanhas, e os dois acabam discutindo a relação e o passado. E também a falta de sexo que os assombra há alguns meses, mas que acaba se resolvendo de forma sobrenatural - ou metalinguística, de acordo com a interpretação. E finalmente, o último capítulo, "Portal Para Bishan da Dinastia Tang no Cruzamento do Parque McCarren" nos traz de volta para Adnan enquanto trabalha na galeria em Nova York. Servindo mais como um epílogo, totalmente sem falas, seguimos o protagonista se entregando a outro encontro noturno no parque, que magicamente o transporta para um novo cenário. Ao se encontrar numa estranha floresta paradisíaca, Adnan apenas aproveita seu momento ali, bebendo água com gosto e sentindo alegremente a grama debaixo de seus pés. O capítulo se encerra com um dos versos de Li Bai percorrendo a tela: "Sentamos juntos, a montanha e eu, até que restasse apenas a montanha".
O resultado de tudo isso é um filme leve e afetuoso, uma jornada suave através de paisagens eróticas convidativas e relaxantes, tal qual os poemas de Li Bai, ao mesmo tempo que retrata transas tão gráficas quanto os quadros de Salandra, e também imaginadas com o mesmo grau de minuciosidade de sua agulha. Poucos filmes conseguiram representar homens transando de forma tão apelativa e ao mesmo tempo tão poética. Quando quer ser mais crítico ao ato em si, Drunken Noodles retrata o sexo como uma tarefa prazerosa ou uma brincadeira passageira e irrelevante. Mas em seus melhores momentos, mostra o sexo sendo literalmente mágico.
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário