A força do filme está na forma como o estranho e o erótico se entrelaçam. A criatura alienígena não é apenas metáfora para o “outro” social, é também um espelho do desejo reprimido. O contato entre homem e alien carrega tensão tátil, homoerótica, vibrante, e revela que o amor, aqui, é tanto fascínio quanto ameaça. A leitura queer surge naturalmente, pulsando sob a superfície, nos gestos, nos
olhares e no modo como o corpo masculino se torna campo de desejo, medo e transcendência.
“O Estranho Caso de Ezequiel” navega entre a fábula e o pesadelo doméstico. Guto Parente conduz a câmera com liberdade sensorial, oscilando entre a banalidade do quintal e a vertigem das visões. A fotografia abraça o contraste entre o real e o místico, o suor e a luz espectral, criando uma textura onírica e ao mesmo tempo áspera. O ritmo fragmentado traduz o estado mental do protagonista, tornando o horror íntimo e cotidiano.
Tematicamente, o filme flerta com o sagrado e o profano. O nome Ezequiel remete ao profeta bíblico, aquele que ouve vozes e vê o que os outros negam. Aqui, Guto subverte a origem religiosa e propõe um novo milagre: o encontro com o diferente como redenção. “O Estranho Caso de Ezequiel” fala de luto, culpa, desejo e marginalidade, e transforma o corpo queer em espaço de resistência, onde a fé e o prazer se confundem.
“O Estranho Caso de Ezequiel” é cinema queer em estado febril. Um híbrido de drama, ficção científica e fantasia que não se explica, apenas se sente. Parente, fiel à sua linguagem provocadora, faz do desejo um gesto político e do amor um território alienígena. É um mini filme de culto, estranho, terno e deliciosamente fora da norma, desses que brilham no escuro.
O cinema de Guto Parente é conhecido por explorar essas tensões queer, e “O Estranho Caso de Ezequiel “mantém esse traço, apresentando cenas que indicam o desejo, a exclusão e a resistência das identidades queer em espaços muitas vezes hostis, sugerindo que a transgressão de normas é central para compreender o filme. 
 
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