A nova temporada de “Monster” transforma Ed Gein (Charlie Hunnam) em uma criatura quase mítica, um homem que atravessa o século XX com um corpo delicado, um olhar perturbado e uma mente esquizofrênica que nunca soube distinguir o que estava vivo ou morto. Ryan Murphy entrega um espetáculo estilizado: Ed se masturba de lingerie, veste máscaras de pele humana e vagueia por uma casa onde a mãe Augusta (Laurie Metcalf) continua ditando regras mesmo depois da morte.
Murphy não tem medo de expor a morbidez com seu glamour habitual. O corpo nu de Charlie Hunnam é filmado, enquanto músicas suaves da época contrastam com o horror em tela. Há um ritmo necro-pop na crueldade, um desfile de fetiches, cordas, crânios, lingerie e cadáveres que se tornam peças de coleção. A fascinação de Ed por revistas nazistas e por Ilse Koch (Vicky Krieps), “A Cadela de Buchenwald”, insere o mal como espetáculo: ela aparece como uma espécie de mentora do caos, conduzindo Eddie a uma estética da violência.
Mas se a história real já é suficiente para provocar, Murphy e Ian Brennan a expandem para o terreno da cultura pop. Alfred Hitchcock (Tom Hollander, que trabalhou com criador em Capote vs the Swans) estuda a vida de Gein para criar “Psicose", enquanto Anthony Perkins (Joey Polari) vive um conflito que ecoa os desejos de Norman Bates. Nos bastidores, vemos Perkins, num caso com Tab Hunter (Jackie Kay). É nessa linguagem meta que Murphy encontra sua assinatura: o horror não é só o do porão de Wisconsin, mas também o de Hollywood transformando psicopatas em entretenimento.
Com o desenrolar da temporada, o espetáculo se torna cada vez mais consciente de si mesmo. Adicionando camadas POP, Ryan Murphy transforma a cantora Addison Rae em Evelyn, uma das vítimas. Adeline (Suzanna Son), figura ambígua, acompanha os crimes de Gein com conivência. O encontro com Bernice Worden (Lesley Manville), dona de uma loja, revela outro aspecto, o desejo de possuir seios, o fascínio por usar a calcinha dela, além da presença necrófila que fará dele um violador de túmulos
A atração, também é uma homenagem aos filmes de terror e recria diretamente imagens de “O Massacre da Serra Elétrica". Em paralelo, a narrativa corta para 1968, onde Tobe Hooper (Will Brill), com baseado na mão e ideias na cabeça, começa a conceber seu filme. O nascimento de Leatherface se entrelaça com o próprio Ed vestindo corpos femininos. E Ryan Murphy, claro, não resiste: costura referências pop, cultura queer, música, de Patti Page e Iron Butterfly, até desembocar nas filmagens icônicas do terror texano.
Quando a polícia invade a casa de Gein, revelando abajures de pele, vulvas mumificadas e vísceras penduradas, a cena não é apenas registro de morbidez, mas um show montado para o olhar da mídia. A “Casa dos Horrores” rapidamente se transforma em atração pública, e Murphy denuncia como o sensacionalismo devora cadáveres com o mesmo apetite do próprio assassino. Ao som de Doris Day ou Jody Reynolds, o macabro ganha um verniz de jukebox, e a cultura pop se torna canibal.
O resultado é uma temporada que encanta mais pelos visuais do que choca. Do grotesco ao camp, das silhuetas de Hitchcock às serras elétricas, de Buffalo Bill à números musicais camp, Murphy faz do horror um espelho distorcido. Se “Dahmer" era puro fedor, e os Menendez exibiam um homoerotismo envernizado, “Monster: The Ed Gein Story” se destaca pela metalinguagem, pelo diálogo com a cultura pop e com o fanatismo por sensacionalismo. É uma dança mórbida entre serial killers da história.
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