sexta-feira, 30 de abril de 2021

Sagat: The Documentary(França, 2011)

Astro Pornô. Ator. Performer. Ícone Gay Internacional. Sagat: The Documentary, de Pascal Roche e Jérôme M. De Oliveira desvenda a personalidade por trás do símbolo sexual e nos apresenta François Sagat despido de seu personagem.

Modelo de virilidade, Sagat se tornou um fenômeno underground com uma personalidade rebelde e criativa e sua tatuagem única na cabeça, que simula um corte de cabelo. O artista seduz e inspira artistas, fotógrafos de moda e cineastas.


O astro abre as portas de sua vida: de sua província natal em Cognac, onde revela sobre a infância, aos seus primórdios em Paris trabalhando em sex-shops onde adentrou para a pornografia, ao inevitável sucesso nos Estados Unidos, pela produtora Titan, em San Francisco.


O filme conta com depoimentos da artista underground Chi Chi LaRue, que compara a experiência de conhecê-lo com Madonna, além de Christophe Honoré, com quem trabalhou em Homem no Banho e Bruce la Bruce que o define como a Marylin Monroe da pornografia “Marylin tinha suas tetas e Sagat tem a bunda’’, conclui o diretor que trabalhou com ele em L.A. Zombie.



O filme também adentra os bastidores da indústria do cinema pornô, mostrando premiações, e muitas cenas de sexo explícito, com Sagat atuando de forma magnética ou ainda de um ponto de vista mais cult, realizando pornografia artística.

Mas o homem sedutor de forma escultural sofria bullying na infância e talvez tenha tirado daí as forças para se transformar. Ao falar do processo, ele conta abertamente sobre o uso de esteroides e compara essa transformação, num super-homem, a um tipo de transexualidade.


O homem que causou impacto na cultura pop mundial, François Sagat, de personalidade secreta e discreta, abre-se de coração e nos revela como e porque um jovem gay do interior se tornou estrela, artista, símbolo e lenda pornô. 


Em Sagat: The Documentary, o pornstar apresenta uma mistura de franqueza e fragilidade comovente. E não tem medo de falar sobre seus medos ou rachaduras. Um olhar cativante para um ícone gay como nenhum outro. 



quinta-feira, 29 de abril de 2021

Bom Trabalho(Beau Travail, França, 1999)

Bom trabalho, relato brilhante da cineasta Claire Denis, sobre a existência dos legionários franceses na África é um filme lindo, compulsivamente poético e que transcreve com inesperada simpatia a severidade da vida de um soldado. 

A fotografia de Agnès Godard, compõe alguns momentos realmente bonitos da paisagem africana, com a luz estranha e o terreno implacável contra o qual esses corpos e almas masculinas são testados até a destruição.


Denis Lavant interpreta Galoup, um sargento durão, lamentavelmente inadequado para a vida civil. É entre os bares e calçadas de Marselha, que ele narra sua parte da história, onde, ficamos sabendo, ele foi exilado da Legião.


De volta à Legião, na África, Galoup teve uma lealdade juvenil para com seu comandante Bruno (Michel Subor), uma lealdade que tem elementos de paixão. O próprio Bruno é uma figura madura e grisalha, um homem que vive apenas para a Legião.



Mas o delicado equilíbrio de seu relacionamento é transformado quando Bruno concebe um interesse paternal em um novo recruta, Gilles Sentain(Grégoire Colin). Enfaticamente, Bruno distingue o novato com elogios por sua masculinidade, desenvoltura e coragem. 

O filme de Claire Denis é um balé hipnotizante e masculino cuja beleza e poder de confiança, vão além das ideias convencionais de transgressão ou homoerotismo. Ela coreografa vários exercícios como uma espécie de alucinação ou miragem, eles parecem se tornar sequências de dança e quadros exóticos, que remetem aos soldados gladiadores de Sebastiane, de Derek Jarman.


A aceitação total da disciplina marcial pelos homens é combinada com uma submissão e confiança: apesar de toda a brutalidade implícita e repulsa e reprimida, quaisquer gestos de drama individual são de alguma forma difundidos e dispersos dentro das estruturas da sociedade militar. 


O que é realmente notável no filme é a maneira como a diretora consegue fundir o real e o onírico, o naturalista e o figurativo, em um conceito visual. Em nenhum momento, do início ao final inusitado, essa tempestade emocional e fervilhante deixa de agir sobre nossos sentidos. 



quarta-feira, 28 de abril de 2021

Dedalus(EUA, 2020)

O longa-metragem de Jonah Greenstein, Dedalus, segue três histórias sem sentido, conectadas pelo desejo de amor e a dor do isolamento. O retrato artístico que contorna a narrativa causa estranhamento, pois os personagens não têm nomes, só rostos.  

Dedalus tem suas raízes num jovem garoto-de-programa(Alexander Horner) ancorada entre a história de uma noite embriagada de uma garota, de Iowa, que termina em um estupro coletivo, assistido pelo meio irmão, e um senhor idoso com doenças invasivas que o forçam a se retirar para a casa de sua filha.


Com um tom naturalista, o longa conta com atores profissionais e não profissionais, embora as atuações sejam uniformes. Alexander Horner, que nunca havia atuado profissionalmente antes, personifica o profissional do sexo com facilidade, embora muitas vezes possa parecer que não está fazendo muito.


Vivendo no frio inverno de Nova York, e acolhido por Daisy(Ashley Robicheaux), provavelmente a única personagem com nome, o jovem garoto de programa proporciona consecutivas e variadas cenas de sexo. 


Ele beija e acaricia seus clientes, quase sempre mais velhos, e talvez idealize neles uma espécie de figura paterna. Quando conhece um homem maduro, interpretado por Thomas Jay Ryan, cria uma espécie de afetividade, ainda que não abandone suas máscaras.


A história do michê é o coração e a alma do longa. Ela nos dá esta sensação jovial sem julgamento e nos mostra uma variedade de peles em diversos estados de florescimento e decadência, todos trazidos ao nosso olhar com real consideração e contemplação. 



terça-feira, 27 de abril de 2021

Fassbinder(Alemanha, 2015)

Rainer Werner Fassbinder teve uma das carreiras mais prolíficas de todos os tempos. Dirigindo mais de quarenta longas, telefilmes e curtas-metragens, bem como duas longas séries de TV, em apenas quinze anos, a produção cinematográfica de Fassbinder, onde também atuava em alguns filmes, é simplesmente alucinante. 

Investigando as motivações que levaram Fassbinder a tal excesso artístico e à sua morte por overdose aos 37 anos, a diretora Annekatrin Hendel, oferece um retrato biográfico abrangente repleto de clipes de filmes, imagens de arquivo e entrevistas com colaboradores, familiares, e diretores, como Wolf Gremm, com quem trabalhou, em seus últimos dias, como ator em Kamikaze.


Enquanto Fassbinder - que nasceu na Baviera em 1945 - é reconhecido como um dos mais importantes diretores alemães da era pós-guerra, ao lado de Win Wenders, o filme mostra que nem sempre foi assim. A exibição de seu longa-metragem de estreia, O Amor é mais frio que a morte, no Festival de Cinema de Berlim de 1969, mostra que o filme foi recebido com vaias e gritos do público e da crítica local.


Apesar da narrativa do documentário ser permeada por suas obras, o filme é um retrato do homem e não dos filmes, concentrando-se em como uma infância caótica mas feliz o transformou em um perfeccionista obsessivo que, em um recorde, dirigiu cinco longas em apenas cinco meses , enquanto afirmava dormir apenas três horas por noite.


Sua homossexualidade e suas paixões arrebatadoras e trágicas por seus atores, como El Heide ben Salem, astro de O Medo Devora a alma(1974), são descritas com detalhes por parte dos entrevistados, assim como sua personalidade difícil e o seu uso compulsivo de tabaco, álcool e cocaína. 



Com uma obra permeada por personagens marginalizados e de sexualidade ambígua a homossexualidade e a transexualidade só foram protagonistas mesmo em O Direito do mais forte é a liberdade(1975), Num ano de 13 luas(1978), As lágrimas amargas de Petra Von Kant(1972) e Querelle(1982).

Fassbinder acreditava que sua educação tumultuada, em que foi criado por uma mãe solteira, que aparece em diversos filmes,lhe deram força.  Sempre em busca de uma nova família, ele conseguiu criar a sua própria com o círculo de atores que ele escalaria repetidamente em seus filmes: Hanna Schygulla , Gunther Kaufmann, Ingrid Caven, Kurt Raab, Gottfried John, Irm Hermann e Harry Baer. A trupe do diretor dividia o mesmo teto e compartilhava ideias e conceitos.


O filme também utiliza de storyboards para fazer analogias com histórias de seu alter ego Franz, por exemplo, além de mostrar o processo de filmagens de As lágrimas amargas de Petra Von Kant, e sua escalação para dirigir a grandiosa série Berlin Alexanderplatz(1980), que a princípio causou dúvida nos executivos do canal devido a sua má reputação.


Rodando um filme atrás do outro, em 1982, mesmo ano de sua morte, Fassbinder enfim foi premiado com o Urso de Prata, no Festival de Berlim, por O Desespero de Veronika Voss(1982). Seu último filme, Querelle, no entanto, foi lançado postumamente. 


O documentário é um rico perfil temático e psicológico do gênio e de sua riquíssima obra. “Eu só pensava que existia quando estava trabalhando”, menciona. E no final das contas o longa revela como, e talvez por que, o grande autor acabou filmando até sua morte precoce, que marcou o fim de uma era para o cinema alemão.




segunda-feira, 26 de abril de 2021

A Seita(Brasil, 2015)


A Seita, filme produzido pelo pelo coletivo pernambucano Surto & Deslumbramento, e dirigido por André Antônio, traz uma gama de olhares irônicos e debochados, capazes de provocar as mais variadas reflexões. Com o longa, lançado inicialmente como um curta, o coletivo cumpre seu objetivo de fugir de padrões heteronormativos e realizar uma lisérgica história gay.

Em 2040, um jovem pintoso, interpretado por Pedro Neves, decide deixar as colônias espaciais onde vive e retornar para Recife. Na cidade caótica, ele vive em um casa refinada em tons de rosa, rica em detalhes kitsh, cortinas vermelhas e referências que vão de Changeman a Oscar Wilde.


Quando sai para as ruas, encontra lugares de pegação, onde flerta com rapazes e os acaba levando para o seu pequeno palácio, onde transam, fumam maconha e tem conversas existenciais sobre o período caótico que vivem. 


Em uma de suas aventuras sexuais ele acaba descobrindo A Seita, um grupo de jovens subversivos que vivem num mundo fantástico com estética de videoclipe indie. O inevitável processo de imersão é imediato, porém falar mais disso seria revelar detalhes importantes.


O  apuro estético e a trilha-sonora nos remetem às mais alegóricas obras do cinema francês. Os figurinos anacrônicos, o linguajar gay dos personagens, e o comportamento languido do protagonista, representam uma afronta ao mundo contemporâneo.


Apesar de sua proposta futurista, o filme que pela temática pode ser considerado uma ficção científica, é um grito de libertação LGBTQIA+ que esbanja criatividade, e que, se observarmos bem à volta, não está tão distante de nossa realidade política e social.



domingo, 25 de abril de 2021

TEDDY AWARD E 10 GANHADORES


Considerado o Oscar do Cinema LGBTQIA+ o Teddy Award é um prêmio que celebra a diversidade anualmente no Festival Internacional de Cinema de Berlim(Berlinale). Dividido em três categorias, Documentário, Longa-Metragem e Curta, além do Prêmio Especial do Júri, a estatueta em forma de Urso de Pelúcia, consagra os melhores e ainda os premia em dinheiro.

Em 1987, os cineastas alemães Wieland Speck  e Manfred Salzgeber formaram um júri chamado International Gay & Lesbian Film Festival Association para criar um prêmio para filmes de temática LGBT. Surgiu então o Teddy Award, premiando Pedro Almodóvar por A Lei do Desejo.


De lá pra cá o galardão evoluiu e se tornou a estatueta mais cobiçada entre os diretores de temática queer. Em 1992, o prêmio passou a fazer parte oficial do Festival de Berlim, quando premiou Together Alone, de P. J. Castellaneta. Em 1997 foi fundada uma organização sem fins lucrativos para incentivar á produção de filmes LGBTQIA+.


Um prêmio especial é comumente entregue, mas nem sempre,  à algum artista por uma conquista notável no cinema LGBTQIA+ , ou pelo papel de um um projeto significativo para a história da cinematografia queer.


Num dia de celebração ao cinema, fizemos uma lista com 10 filmes que já ganharam o Teddy Award, premiação que ao lado do Queer Palm, no Festival de Cannes, é uma das mais importantes da indústria cinematográfica LGTQIA+.


10 - Hoje eu quero voltar sozinho(de Daniel Ribeiro, Brasil, 2014)



Leonardo
(Ghilherme Lobo) é um adolescente cego que, como qualquer adolescente, está em busca de seu lugar. Desejando ser mais independente, precisa lidar com suas limitações e a superproteção de sua mãe. Para decepção de sua inseparável melhor amiga, Giovana(Tess Amorim), ele planeja libertar-se de seu cotidiano fazendo uma viagem de intercâmbio. Porém a chegada de Gabriel(Fábio Audi), um novo aluno na escola, desperta sentimentos até então desconhecidos em Leonardo, fazendo-o redescobrir sua maneira de ver o mundo.


09 - The Watermelon Woman(de Cheryl Dunye, EUA, 1996)



Escrito, dirigido e protagonizado por Cheryl Dunye,
The Watermelon Woman é considerado um marco do new queer cinema, movimento surgido nos anos 1990, que mostrava personagens que transgrediam o sistema, exploravam livremente sua sexualidade e dialogava diretamente com a teoria queer da filósofa Judith Buttler.  No filme, Cheryl é uma jovem lésbica e negra que trabalha numa vídeo-locadora e faz vídeos amadores. Seu objetivo é descobrir quem foi a mulher melancia uma atriz negra dos anos 1930, onde afrodescendentes estavam fadados a interpretar criados e escravos no cinema.


08 - Ausente(de Marco Berger, Argentina, 2011)



Martin(Javier de Pietro) é um adolescente que está interessado em Sebastian(Carlos Echeverria), seu professor de educação física. Após inventar uma série de desculpas, ele consegue passar uma noite na casa do professor, que é comprometido com uma mulher. Porém, quando Martin demonstra suas verdadeiras intenções, uma forte tensão se instaura entre os dois e Sebastian se vê seduzido pelo aluno. Ele passa, então, a ser confrontado com um dilema moral por sua posição de professor.


07 - Amigas de Colégio(Fucking Amal, de Lukas Moodysson, Suécia, 1998)



O filme conta a história de uma adolescente, Agnes(Rebecka Liljeberg), que se mudou com a família para uma pequena cidade sueca chamada Amal, o lugar mais chato da terra, segundo ela mesma. Agnes não consegue fazer amigos no colégio e sua companheira na sala é uma garota que vive em uma cadeira de rodas. Para complicar ainda mais as coisas, ela está apaixonada por Elin(Alexandra Dahlstrom), uma garota do colégio, porém o único a saber desta paixão é seu computador, onde ela faz todas as suas anotações. No dia de seu aniversário, Agnes não percebe que a irmã mais velha de Elin descobre suas anotações e faz uma aposta com a irmã: se ela deixar Agnes beijá-la, pagará à irmã 20 cronas(moeda sueca). Este é só o começo de uma série de situações vividas por essas adolescentes nesta pacata cidade.


06 - Veneno(Poison, de Todd Haynes, EUA, 1991)



O longa de estreia de Todd Haynes é dividido em três episódios: Em "Herói", Richie tem sete anos, mata o pai e desaparece no mundo. Depois do acontecimento, um documentário pastiche em cores esquisitas questiona quais teriam sido as motivações do menino para cometer o assassinato. "Horror", filmado em preto e branco, é a história de um cientista que isola o elixir da sexualidade humana e, quando testa a invenção em si mesmo, transforma-se num inflamado assassino. Uma colega sua tenta salvá-lo, mesmo sob risco de vida. "Homo", baseado em Jean Genet, mostra a atração de um preso na penitenciária Fontenal por um homem, outro detento, a quem ele tinha conhecido em sua juventude, num reformatório.


05 - Wittgenstein(de Derek Jarman, Reino Unido, 1993)



Um retrato particular e lisérgico da vida do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, cultuado pela filosofia da linguagem contemporânea, crescido no luxo extremo de uma família vienense, que opta pela carreira filosófica e pela vida simples. O filme mostra por meio de belíssimas e estranhas imagens as preferência e estilos do filósofo, como concebidas por Jarman, conversas com marcianos, danças com parceiros homoeróticos, comédia com a figura de Bertrand Russel. Marco do chamado “fragmentalismo” o filme conta com as atuações de Karl Johnson e Tilda Swinton.


04 - Gotas d’água sobre pedras escaldantes(Gouttes d'eau sur Pierres Brûlantes, de François Ozon, França, 2000)



Alemanha, anos 1970. Léopold(Bernard Giradeau), um cinquentão, seduz Franz(Malik Zidi), um jovem garoto de 19. Franz se apaixona e vai morar com Léopold. No entanto, surge um dia uma pequena divergência, sobre a qual os dois não conseguem concordar. E a chegada de Anna(Ludivine Sagnier) e Vera(Ana Levine) só tendem a piorar a situação. A partir daí, não há mais um eu comum entre eles, mas apenas divergências. Baseado na peça de Rainer Werner Fassbinder, grande referência cinematográfica de Ozon.


03- Hedwig: Rock, Amor e Traição(Hedwig and the Angry Inch, de John Cameron MItchell, EUA, 2001)



Hedwig(John Cameron Mitchell) é uma cantora de rock que nasceu homem, na Alemanha Oriental, e se chamava Hansel. Criado ouvindo uma rádio norte-americana, Hansel só tinha duas certezas na vida: de que seria uma estrela de rock e que um dia encontraria sua alma gêmea. Quando conhece Luther(Maurice Dean Wint), recruta americano que promete casar-se e levá-lo para os Estados Unidos, Hansel pensa que chegou sua vez de ser feliz. Contudo, para que seu sonho se realize, é obrigado a submeter-se a uma cirurgia de troca de sexo. Hansel torna-se Hedwig, muda-se para a América e forma uma banda de rock. Mas este é apenas o primeiro capítulo de uma história ao mesmo tempo dramática e engraçada, permeada por amores arrebatadores, amargas desilusões e rock dos bons.


02 - Uma Mulher Fantástica(Una mujer fantastica, de Sebastián Lelio, Chile, 2017)



Vencedor do Oscar de Filme estrangeiro, o filme conta a história de Marina, a ótima Daniela Vega,  uma mulher trans. Quando seu parceiro, um homem de meia idade, morre, ela se vê diante da raiva e do preconceito da família dele. Ela luta por seu direito de sofrer - com a mesma energia ininterrupta que ela exibiu quando lutou para viver como uma mulher. O filme, abriu o caminho para que diversas produções LGBTQIA+ chilenas ganhassem luz.


01- A Lei do Desejo(La Ley del Deseo, de Pedro Almodóvar, Espanha, 1987)


Pablo Quintero (Eusebio Poncela) é um diretor de teatro homossexual. Ele é apaixonado por Juan Bermúdez (Miguel Molina), mas sua paixão não é correspondida. Tina (Carmen Maura) é sua irmã, tendo realizado uma operação de mudança de sexo anos antes para manter uma relação incestuosa com o pai. Ela é atriz e estrela o monólogo "A Voz Humana", de Jean Cocteau. Pablo está escrevendo o roteiro de um filme, que será estrelado pela irmã. Enquanto isso, ela decide adotar Ada (Manuela Velasco), cuja mãe (Bibiana Fernández) viajou. Há ainda Antonio Benitez (Antonio Banderas), jovem de classe média alta que tem dificuldades em assumir sua homossexualidade e sempre está obsessivamente em torno de Pablo. Anos depois Almodóvar retomaria um tema deste filme em A Má Educação(2004).


sábado, 24 de abril de 2021

RuPaul's Drag Race 13ª Temporada(EUA, 2021)

O ano começou e junto com ele a 13ª Temporada de RuPaul’s Drag Race que, gravada toda durante a pandemia, trouxe algumas restrições, como o painel de jurados, mas vários inovações, provando que ainda há fôlego e criatividade para a franquia.

Denali, Kandy Muse, Elliott with 2 T’s, Joey Jay, Kahmora Hall, Lala Ri, Olivia Lux, Tina Burner, Rosé, Tamisha Iman, Utica Queen, Symone e Gottmik, o primeiro trans homem a participar do programa, formam o time de participantes.

A estreia foi diferente das outras, contando com 6 lipsyncs e dividindo o grupo em dois o das vencedoras e o das perdedoras. Nos dois episódios seguintes os grupos tiveram que apresentar desfiles de moda, com Kahmora Hall ostentando um legítimo Bob Mackie, e montar um musical; Congradulations e Phenomena. Sendo assim, a primeira eliminação só aconteceu no quarto episódio quando finalmente houve o encontro de todo o elenco.

A primeira eliminada foi a chiquérrima Kahmora Hall, que se saiu mal no desafio de atuação e levou uma surra de Denali no lipsync da icônica 100% Pure Love do Crystal Waters. Os desafios seguintes foram os costumeiros baile, comédia e o rusical, que nessa temporada teve como temática as redes sociais.



Como não houve jurados famosos, a produção deu um jeitinho de colocar Anne Hathaway e Scarlett Johanson, em contato com as rainhas num telão na Workroom, que também foi adaptada para seguir os padrões protocolares da OMS.

No oitavo episódio quando Symone e Kandy Muse tiveram que dublar por suas vidas ao som de Fifth Harmony, rolou o double shantay da temporada. Muse, que é filha drag de Aja, se destacou pela personalidade irreverente, explosiva e o crescimento ao longo da competição.

Marcando a metade do programa tivemos um especial bastante informativo com depoimentos das queens sobre como foi gravar durante a pandemia e o impacto em suas vidas.

Chegado o esperado Snatch Game, as convidadas foram Porkchop e Raven, das primeiras temporadas, e o destaque foi para Symone que, sempre ativista, retratou Harriot Tubman e Gottmik, que ganhou o desafio ao personificar Paris Hilton. O trans também se destacou por seu senso estético único e visuais incríveis na passarela.


No desafio de transformação, as queens tiveram que modificar umas às outras, já que o atual momento impediria que a produção trouxesse pessoas de fora. E esse episódio marcou mais um elo que se estreitou entre as participantes.

Tina Burner, que é uma drag conhecidíssima na cena de NY acabou não se destacando no programa e fez as malas antes do planejado. Na semana seguinte viria meu desafio favorito, o Roast, onde as participantes remanescentes precisaram fazer humor com as Miss Simpatias: Nina West, Heide N Closet e Valentina. Utica fez muito feio com piadas ofensivas enquanto Kandy Muse arrasou no tom e levou Win.

Ainda teve paródia de Querida Encolhi as Crianças que definiu o TOP 4 em um lipsync de Strong Enough da Cher, entre Olivia Lux e Kandy Muse. No episódio seguinte, Rosé, Gottmik, Symone e Kandy Muse, as quatro finalistas, arrasaram ao criar versos e fazer a coreografia para o clipe de Lucky, nova música de RuPaul, que desta vez foi gravado em estúdio e não no palco principal.

Uma das temporadas mais longas da história do programa, essa foi sem dúvida a das dublagens. Teve lipsync de Ariana Grande, Whitney Houston, Britney Spears, Lindsay Lohan, Janet Jackson, Cher, La Bouche e Dua Lipa, só para citar alguns. Até o tradicional Reunited, que acontece uma semana antes da final, abriu espaço para as queens eliminadas apresentarem seus clipes, tornando-se a melhor versão do episódio de todas as edições.



Na grande final foi visto algo que há muito não se via, RuPaul abriu o programa performando sua nova música New friends silver, old friends, para depois dedicar o programa à amizade e apresentar as quatro finalistas, desfilando em três diferentes categorias. Jaida Essence Hall, vencedora da 12ª edição, ficou do lado de fora do teatro acompanhando o público, que via tudo num drive in por um telão.

Além de uma homenagem à ChiChi DeWayne, participante da 8ª temporada, falecida no ano passado, a final também lembrou os 40 anos da epidemia da AIDS e fazendo uma analogia com o momento atual, o TOP 4 apresentou um belo número de Friends, da Bette Midler.


Chegou o momento das batalhas: a roleta determinou que Kandy Muse enfrentaria Rosé e logo Symone dublaria contra Gottmik. A Miss Simpatia eleita foi Lala Ri. Todas as músicas dos duelos foram de Britney Spears, Gimme More, Work Bitch e Till the World Ends, numa homenagem merecedíssima á princesinha do POP. O embate final, entre Symone e Kandy Muse, consagrou a talentosa Symone como a vencedora da edição.


O saldo da temporada foi muito positivo. A equipe se arriscou e conseguiu fazer uma edição que, mesmo trazendo mais do mesmo, apresentou um respiro de criatividade com um elenco afinado, que amadureceu ao longo dos episódios, e a produção cada vez mais caprichada. A 13ª temporada conseguiu novamente trazer alento em meio ao momento caótico que o mundo vive. Can I Get an Amen?


sexta-feira, 23 de abril de 2021

Nasty Baby(EUA/Chile, 2015)

No filme do diretor chileno Sebastián Silva, Freddy, interpretado pelo próprio cineasta, e Polly, Kristen Wiig, estão tentando ter um filho juntos. Eles não são um casal: Polly é solteira e Freddy mora com seu namorado, Mo(Tunde Adebimpe), e também com um gato magrelo que rouba algumas cenas.

Freddy, que é um artista plástico, está intrigado com o conceito de criar uma réplica de si mesmo. Ele está incorporando a ideia em uma instalação de vídeo e se fixa na ideia de ser pai. Quando Freddy e Polly descobrem que sua contagem de esperma pode estar muito baixa, perguntam a Mo se ele gostaria de servir como doador, mas ele inicialmente hesita.

Mo é negro, Polly  é branca e Freddy é um imigrante. A comédia maliciosa divide o título com o projeto de arte de Freddy, que acaba sendo desdenhado pelo curador por ser 'fofo demais'. Não que alguém dê muita importância para raça, sexualidade ou nacionalidade, exceto ocasionalmente para fazer alguma piada inteligente e cuidadosa.

Mo, Freddy, Polly e outros em seu círculo social, vivem em completa harmonia, até que o vizinho Bispo(Reg E. Cathey), insiste em em usar seu soprador de folhas no primeiro horário da manhã e tornando-se uma constante pedra no caminho de Freddy, por seus comentários homofóbicos.

O maior risco que alguém parece enfrentar, e a fonte mais confiável de riso por cerca de uma hora, é o constrangimento que surge quando limites não ditos são transgredidos. E o trabalho do grupo é precisamente descobrir as regras da vida, agora que as velhas normas desapareceram. Quando isso acontecer, seu mundo se tornará uma utopia alcançada de tolerância, amor e criatividade.

Mas o que parecia uma história anedótica e sinuosa acaba por ser uma máquina narrativa cuidadosamente construída, que dispensa uma série de surpresas brilhantemente desagradáveis. A realização de Silva não é apenas provocar uma reviravolta na história, mas também lidar com uma mudança de tom que vira o filme com certa crueldade.

À medida que os mal-entendidos vão de estranhos a horríveis, as cócegas suaves da comédia são substituídas pela farpa da sátira e o sorriso do público é substituído por uma careta de cumplicidade. Nasty Baby levou o Teddy Award, o Oscar LGBTQIA+, em 2015,  no Festival de Berlim.




quinta-feira, 22 de abril de 2021

Homem no Banho(Homme au Bain, França, 2010)


O poema de Christophe Honoré sobre o desejo homossexual é em parte um canto de amor pessoal e em parte os rabiscos eróticos de um adolescente excitado. O cineasta chamou o astro pornô François Sagat, também colaborador de Bruce la Bruce, para representar a nudez frontal, ereções e cenas de sexo.

Um cineasta de algum renome internacional vive em um conjunto habitacional precário nos arredores de Paris com um  musculoso sem capacidade intelectual aparente. 


Após Emmanuel (François Sagat) estuprar Omar (Omar Ben Sellem), o cineasta termina com ele e pede que ele saia do apartamento quando voltar de uma viagem promocional à Nova York com sua atriz principal, Chiara Mastroianni, que pode ou não estar interpretando ela mesma.


Emmanuel e Omar passam a semana separados e ambos refletem sobre seu relacionamento. Emmanuel faz sexo com quantos homens consegue colocar suas mãos robustas, enquanto Omar e Chiara conhecem em Nova York um lindo garoto canadense chamado Dustin (Segura-Suarez).


A câmera de Honoré paira sobre o corpo tatuado de Dustin com o mesmo desejo voyeurístico com que ele documenta Sagat, um homem de rosto triste de alcance limitado de atuação, onde o grande atrativo está em sua atlética forma física.


O filme possui uma sensibilidade juvenil o tempo todo, desde a escalação de Sagat até a preocupação com seu traseiro, o tabagismo agressivo e a trilha sonora com músicas da banda indie,Two Door Cinema Club. Ao passar por uma série de encontros sexuais pervertidos, Emmanuel percebe que está apaixonado por Omar, afinal. O título se refere a um nu masculino do artista do século XIX Gustave Caillebotte e, aparentemente, reflete o desejo de Honoré de exaltar corpos masculinos. A lubricidade foi realizada, porém a genialidade de filmes como Canções de Amor e Minha Mãe, infelizmente ficaram ocultas. 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Tenho Medo Toureiro(Tengo Miedo Torero, Chile, 2020)

Uma transexual envelhecida e um guerrilheiro tornam-se companheiros improváveis ​​no drama chileno Tenho Medo Toureiro. Esta adaptação do romance de Pedro Lemebel foi transformada em um filme atmosférico pelo escritor e diretor Rodrigo Sepulveda, que trabalha com o grande ator chileno Alfredo Castro, de O Príncipe e De Longe te Observo, como a protagonista La Dueña ou a Louca da Frente.

A história se desenrola na preparação para o atentado contra a vida de Pinochet, em 1986, pela Frente Patriótica Manuel Rodríguez. La Dueña mora na parte errada de Santiago, em um apartamento burguês, rico em detalhes, que foi abandonado após o terremoto de 1985. 


Ao fugir de uma batida policial em um bar gay, a Louca consegue escapar dos policiais graças a um bonito mexicano, Carlos (Leonardo Ortizgris). Não demora muito para que o barbudo bata na porta da trans para pedir abrigo para seus amigos comunistas. “Se algum dia houver uma revolução das bichas loucas, me avise”, diz ela.


A relação entre a Louca, que se prostituia na saída de um cinema pornô e agora é costureira,  e Carlos lembra bastante O Beijo da Mulher Aranha, até mesmo na aparência, nos diálogos e no caráter dos personagens, Ortizgris parece muito com Raul Julia e seu preso político do filme de Hector Babenco.



Mesmo sabendo dos riscos que irá correr, a Louca ajuda Carlos e seus amigos e conclui que podem haver comunistas homossexuais. Seu palácio, se torna refúgio para revolucionários e anarquistas e a personagem está imediatamente num grupo, que além de marginalizado, é buscado pelo governo.

Tengo Miedo, Torero é também o nome de uma canção de Lola Flores, musa de Pedro Almodóvar, que é entoada em momentos chaves do filme. A trilha sonora ainda referencia o cineasta espanhol em uma belíssima cena ao som de Llorona de Chavela Vargas. Há também Peggy Lee, Elis Regina e Paquita la del Barrio.

Carlos e La Dueña vivem uma relação complexa que é permeada por uma forte tensão sexual. Um piquenique e uma surpresa de aniversário depois do meio do caminho dão a trans uma forte esperança de consumar sua paixão clandestina.


Encontrar o equilíbrio certo entre a exuberância de uma transexual e seu cansaço do mundo é complicado, mas Castro acerta isso, renunciando a qualquer exibicionismo ou maneirismo e expressando as inseguranças da personagem principalmente em seus olhares e silêncios. O papel lhe rendeu os prêmios de Melhor Ator e Melhor Performance, no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, em 2020.


terça-feira, 20 de abril de 2021

Un Año sin Amor(Argentina, 2005)


Longa de estreia de Anahí Berneri, o filme, ganhador do Teddy Award em 2005, adapta a autobiografia de Pablo Perez. Em 1996, o gay e soropositivo Pablo(Juan Minujin) entediado com sua rotina de sexo em cinemas, e solitário, começa a escrever um diário com suas experiências.

O HIV, a homossexualidade, o sadomasoquismo, os ambientes undergrounds de Buenos Aires, configuram a personalidade de Pablo, que tem no amigo Nicolas, Carlos Echeverria, de Ausente, um braço direito para todas as horas.

Com as células CD4 cada vez mais baixas, Pablo se recusa a tomar o AZT, que na época já estava surtindo efeitos positivos e segue divulgando anúncios em revistas pornográficas para encontros de sexo.

A câmera segue o personagem valorizando sua história e o diário que descreve sua vida familiar, sexual, a vida afetiva e profissional, como um professor de francês, e sua relação com o vírus que em momento algum é tratada como melodrama mas que define o personagem.

Sem fazer juízos de valor o filme adentra temas densos, principalmente quando Pablo se relaciona com um casal sadomasoquista e passa a frequentar festas BDSM, onde avista o dominador Martín(Javier Van de Couter), e passa a desejá-lo.

Corajoso e elegante, Un año sin Amor conta com uma grande interpretação de seu elenco que com naturalidade e realismo encena a busca por preencher espaços vazios e obscuros produzidos pela solidão.