sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A Night Like This (Reino Unido, 2025)

 

Liam Calvert estreia em longa-metragem com “A Night Like This”, um romance noturno que flutua entre o realismo melancólico e a poesia etílica das madrugadas londrinas. O filme acompanha Oliver (Alexander Lincoln), dono de uma boate à beira da falência, e Lukas (Jack Brett Anderson), um ator gay quebrado e desiludido, que se encontram por acaso em um bar e decidem passar a noite juntos. A premissa é simples, mas o que o diretor constrói a partir dela é uma sinfonia de solidão, desejo e efemeridade,  uma espécie de “Before Sunrise” com cheiro de cerveja morna e neons roxos.

O roteiro de Diego Scerrati, que também assina a produção, aposta na cadência das conversas e nos silêncios entre uma confissão e outra. O encontro dos dois homens funciona menos como uma história de amor e mais como um mergulho nas ruínas da masculinidade queer contemporânea, marcada por frustrações profissionais, desejos contidos e a ânsia por ser visto. Calvert filma a noite londrina como um espelho fragmentado, onde os personagens se perdem e se revelam na mesma medida, um retrato fiel da vulnerabilidade gay urbana.


Lukas e Oliver são opostos que se refletem: o primeiro, impulsivo e quebrado, o segundo, contido e resignado. O que começa como flerte vira confissão, e o que poderia terminar em sexo casual se transforma em partilha emocional. A química entre Jack Brett Anderson e Alexander Lincoln é sutil, mas magnética, sustentada por olhares cansados e gestos que carregam tanto desejo quanto desespero. “A Night Like This” entende que o amor gay muitas vezes nasce da solidão, e que nem toda conexão precisa durar para ser verdadeira.


Visualmente, o filme é um espetáculo de contenção. A fotografia aposta em tons azulados e sombras suaves, captando o contraste entre a vibração dos bares e o vazio das ruas ao amanhecer. Cada plano parece tentar capturar o instante antes que ele desapareça, o cigarro que se apaga, a risada que quebra o silêncio, a música que ecoa num clube vazio. É um cinema de atmosferas, em que o espaço urbano se torna personagem e confidente.


O mérito de Calvert está em abraçar o minimalismo emocional sem cair no clichê do sofrimento queer. “A Night Like This” não fala sobre dor, mas sobre encontros, esses lampejos de humanidade que iluminam o escuro. O filme recusa o drama explícito, preferindo a ambiguidade dos gestos e a leveza do que não se diz. Ao invés de buscar respostas, oferece cumplicidade, como um estranho que te ouve no balcão e desaparece antes do amanhecer.


Entre taças, risadas e confissões, “A Night Like This” revela-se uma ode aos encontros fugazes e ao amor possível dentro do caos urbano. Liam Calvert estreia com um filme que respira a melancolia dos pubs londrinos e a esperança dos corações cansados, onde o simples ato de escutar o outro já é um gesto de redenção. Um retrato delicado, queer e profundamente humano daquilo que nos une, ainda que por uma noite só.

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